História - O melhor do bairro de Aricanduva, São Paulo, SP

 Vila Aricanduva

Aricanduva é uma palavra de origem tupi, que significa sítio das plantas aíris, um determinado tipo de palmas. No século XVII o riacho Aricanduva já era mencionado, assim como um arrabalde da cidade de São Paulo de mesmo nome. A origem da Vila Aricanduva data, aproximadamente, de 1.902 ou 1.905, mas, seu desenvolvimento ocorreu por volta de 1.950.

A abertura do trecho da Radial Leste, veio a abrir, para a Vila Aricanduva, novas perspectivas de progresso, tornando-a sobretudo mais próxima do centro.

Um novo impulso foi dado à Vila quando, em 1976, deu-se início à construção da Avenida Aricanduva sobre o leito do córrego considerado o 4º rio da cidade. Como tantos outros bairros periféricos da cidade de São Paulo, inclusive pertencentes à essa regional administrativa, sofre de descontinuidades do crescimento da cidade de São Paulo.

Data de aniversário: 2°domingo de novembro

No meio do caminho da Zona Leste, as contradições de Aricanduva

Com uma população de 266.838 habitantes distribuídos em uma área de 21,5 km², é interessante observar como os índices sociais decrescem à medida que os distritos da subprefeitura são percorridos em direção ao leste.

A Subprefeitura de Aricanduva/Vila Formosa/Carrão possui as mesmas contradições comuns a outras regiões da cidade. Mas uma característica lhe é peculiar: é uma espécie de área de transição entre o Centro e as regiões mais distantes da Zona Leste.

Com uma população de 266.838 habitantes (Censo/IBGE 2000) distribuídos em uma área de 21,5 km², é interessante observar como os índices sociais pioram à medida que os três distritos da subprefeitura são percorridos em direção ao leste – partindo da Vila Formosa, passando pelo Carrão, e chegando a Aricanduva.

A Vila Formosa, localizada mais a oeste, vizinha e rival do Tatuapé, na Subprefeitura Mooca, uma das regiões mais valorizadas da zona Leste, apresenta indicadores sociais próximos aos das regiões mais desenvolvidas da cidade. É uma das áreas mais arborizadas da zona Leste, com 78 praças em seu território, e a verticalização ali ainda não atingiu o nível de outros bairros.

Infra-estrutura

Por essas razões, Sílvia Inêz Machado, presidente do Conselho de Segurança da Vila Formosa e diretora executiva da Gazeta da Vila Formosa, considera esta “a mais formosa das vilas”. Ela define seu bairro como “uma província onde as pessoas se conhecem e participam”. Há 20 anos morando na Vila Formosa, participou de inúmeras atividades ligadas à Vila, e hoje escreve um livro sobre a história de seu bairro, que completa 82 anos em outubro.

A Vila Formosa possui uma das melhores infra-estruturas da zona Leste: lá se encontram, entre outras coisas, a Unicsul, as Faculdades Brasília e o shopping Anália Franco. O distrito reserva ainda algumas construções importantes, como a Casa do Regente Feijó e as igrejas São Benedito das Vitórias e Nossa Senhora do Sagrado Coração – famosa em todo o país por seu carrilhão, um conjunto de 44 sinos, que só são tocados em conjunto em ocasiões especiais – como o aniversário, no último domingo de maio.

Maior cemitério

Nesse distrito vivem cerca de 90 mil pessoas. Mas a maior população da Vila Formosa jamais viveu lá. No Cemitério da Vila Formosa, o maior da América Latina, com uma área de 780 mil m², estão enterradas cerca de 1.434.000 pessoas – a esmagadora maioria, pobres, moradores de diferentes regiões da zona Leste.

O Cemitério da Vila Formosa, fundado em 1949, é dividido em duas alas. Em cada uma delas são realizados cerca de 275 enterros por mês. De acordo com o administrador do Vila Formosa II, Celso de Araújo Moura, o cemitério é uma das melhores áreas verdes de São Paulo. E ele quer melhorá-la: em dois meses à frente do Vila Formosa II, foram plantadas 120 árvores.

O esforço de Celso se justifica, pois a necessidade de reformas e melhorias no local é evidente. Segundo ele, é preciso, entre outras coisas, aumentar a segurança do local, asfaltar as vias de Vila Formosa II e ampliar o número de funcionários do cemitério.

Os problemas com segurança, somados ao despojamento do cemitério – covas rasas e ausência de monumentos –, acabam gerando uma imagem negativa do local. Mas o Cemitério da Vila Formosa possui seus encantos – visíveis sobretudo em seus belos bosques. Com as reformas que Celso pretende fazer, o cemitério pode se transformar em um ótimo local para uma caminhada ou para a contemplação: “às vezes, quando estou de cabeça cheia, vou para um desses bosques, dar uma espairecida. Nenhum barulho chega até lá”, conta.

Carrão

Continuando o passeio pela região, na Vila de Santa Isabel, já dentro do distrito Carrão, o visitante irá se surpreender com a beleza da Igreja de Santa Isabel, idealizada pelo Monsenhor Ciro Turinona na década de 1950 e consagrada na década de 1980.

No Carrão já é possível perceber uma certa diferença em relação ao padrão de vida da Vila Formosa. De fato: os índices de desenvolvimento da região estão um pouco abaixo do distrito vizinho.

Ali, no entanto, as características interioranas estão até mais acentuadas. Basta uma visita ao bar do Alemão, na esquinas das ruas Engenheiro Pegado com Eponina, para testemunhar esse fato. Presença certa no bar é seu Leandro Cerqueira da Silva, 98 anos – os últimos 61 vividos na Vila Carrão. Mudou do Rio de Janeiro para São Paulo em 1926 e, durante a gestão de Prestes Maia (1938-1945), trabalhou na retificação do Tietê, permanecendo na Prefeitura de São Paulo durante 35 anos.

Mantém vivas as lembranças do bairro que, “naquela época, tinha muito mato”. A Vila Carrão contava então com cerca de 300 habitantes, que viviam em chácaras – hoje, são cerca de 75 mil. “Era uma biboca, só havia mesmo um posto de gasolina”, diz. Mas tinha seu lado bom: “Bebi água e pesquei no Tietê e no Aricanduva. E não havia problema de enchente, porque a população ainda não morava perto do rio”.

Lembranças

Os demais freqüentadores do bar também têm histórias para contar – seus pais e avós foram os fundadores do bairro, que completou 82 anos neste mês, e hoje dão nomes às ruas da Vila Carrão. Quando seu Leandro foi perguntado sobre a história de Horácio Fidalgo, residente do bairro e que nos anos 1960 foi o maior traficante da cidade, todos se manifestaram. Seu Leandro conta que freqüentava o mesmo baile que Fidalgo: “Tínhamos que cumprimentá-lo, mas não pegava bem ser seu amigo”.

Reinaldo Antônio Lopes, 55 anos, lembra também das histórias do filho do traficante, Carlos Fidalgo, o Fidalguinho, que atuava como “caranguejeiro” – ladrão de carros. Fidalgo foi executado pelo Esquadrão da Morte e Fidalguinho foi assassinado em uma abordagem policial, em circunstâncias nunca devidamente esclarecidas.

Colônia

Na Vila Carrão há ainda uma colônia japonesa, que se formou durante as décadas de 1960 e 1970. Os laços com o país de origem são mantidos através da atuação de duas associações localizadas no bairro, a ACREC (Associação Cultural Recreativa e Esportiva do Carrão) e a Associação Okinawa, que reúne pessoas oriundas daquela província japonesa.

Segundo Meire Chiemikina, da Okinawa, há cerca de 400 famílias em cada uma dessas associações. Na Okinawa, fundada em 1956, é possível a qualquer pessoa fazer cursos de japonês, música e danças folclóricas. A comunidade japonesa da Vila Carrão organiza ainda o tradicional campeonato de Gateball – uma mistura de golfe e sinuca – que reúne equipes de toda a cidade.

Aricanduva

O passeio termina, enfim, pelo distrito mais a leste e que torna a região famosa em toda a cidade: Aricanduva. Sem dúvida, o rio Aricanduva, que dá nome à região e fica na divisa com Itaquera, é o principal referencial do distrito. Ali, já se esboça a imagem que tradicionalmente se tem da zona Leste: indicadores sociais baixos, maior número de favelas e, sobretudo, as enchentes do rio Aricanduva, que trazem muitos problemas às pessoas mais desassistidas e demandam boa parte dos esforços da subprefeitura.

Apesar desses problemas, a região possui boa infra-estrutura, com comércio intenso e diversificado e aquele mesmo aspecto provinciano dos outros distritos – o que é, certamente, um de seus pontos fortes.

Luta por melhorias

Os problemas não fazem diminuir o amor que seus moradores têm pela região. Ao contrário, motivam a lutar por melhorias. É assim no caso do oficial de farmácia Amadeu Rigueti, 64 anos, morador do bairro há mais de 40. O “Amadeu da farmácia”, como é conhecido no bairro. Há 12 anos, Rigueti preside a Saja – Sociedade dos Amigos do Jardim Aricanduva. É também diretor de saúde da Câmara Regional do Vale do Aricanduva, associação que reúne mais de 60 sociedades de bairro.

Durante o período em que está no Aricanduva, Rigueti viu o bairro fundado em 1941, a partir do loteamento de uma fazenda de Adhemar de Barros, que tem como marco zero o prédio da caixa d’água, passar por inúmeras mudanças. Conta que na década de 1960, quando se estabeleceu no bairro, o comércio local ficava restrito ao “barzinho da esquina”, um depósito de material de construção, uma mercearia e uma padaria.

Viu o número de residências crescer entre 1960 e 1980 e o comércio substituir a indústria como principal atividade econômica a partir da década de 1980. E vê hoje os grandes empreendimentos substituírem esse comércio. Rigueti lembra com saudade do tempo em que podia pescar no Aricanduva. Mas não é saudosista – sabe que o progresso não pode esperar. E celebra tanto as grandes como as pequenas conquistas da região.

Vila Aricanduva