História - O melhor do bairro de Conjunto Ceará, Fortaleza, CE

NOSSA HISTÓRIA

A História do Conjunto Ceará remonta aos anos setenta. O Brasil vivia sob o signo do terror da regime militar do presidente Médice. Nos cárceres padeciam muitos patriotas, condenados pelo crime da luta pela liberdade. Enquanto isso, muitos brasileiros alheios ao que acontecia nos porões da Ditadura, comemoravam a euforia do “milagre brasileiro” e o tricampeonato de futebol no México. Eram anos de flores e de canhão, de rebeldia e de chumbo, de sonhos e pesadelos. A força bruta não calava as demandas sociais.


Dentre os muitos problemas do período destacava-se a questão da habitação, um drama na cidade de Fortaleza que crescia vertiginosamente sob os ventos da modernidade. Em 1971, a capital cearense já possuía 150 mil residências, entretanto, mais de 65 mil famílias viviam desabrigadas. A megalomania do regime militar prometia resolver o déficit habitacional construindo conjuntos residenciais na periferia para a população pobre. Eram casa simples, modestas, espartanas. Enquanto isso, a orla marítima era ocupada por prédios luxuosos, habitados pela “gente bacana” que passava a “monopolizar” a brisa do mar.


A área destinada ao Conjunto Ceará foi comprada de um rico latifundiário, o senhor Bezerrinha, também proprietário das terras da Bezerra de Menezes. A região onde hoje estão localizadas a primeira e a segunda etapa era chamada de Estiva, enquanto nas proximidades do canal onde hoje está localizada a quarta etapa era a conhecida como Veneza. Bonitos nomes para um canto sem alegria, com poucos encantos.


As primeiras 996 casas padronizadas do Conjunto Ceará somente foram entregues em 1977 pelo Coronel Adauto Bezerra, governador do Estado. Os contemplados em sorteio pelo sistema da COHAB (Companhia de Habitação) recebiam casas divididas em UV’s (Unidades de Vizinhança) e cada UV equivalia a cem residências. Nas propagandas oficiais os militares diziam: “este é um país que vai pra frente” e o Conjunto Ceará era usado para divulgar os feitos do regime militar.


Para além do discurso oficial, a vida dos primeiros habitantes da região não foi fácil. O Conjunto não tinha calçamento, moravam distantes das áreas centrais, sofriam o abandono do poder público com carências de escolas, postos de saúde, áreas de lazer e com um deficiente sistema de transportes coletivos em um conjunto que nem tinha calçamento. Diante da ausência do poder público, os moradores do Conjunto Ceará reinventaram seu próprio espaço numa intensa teia de mutirão e solidariedade, com sentimento de comunidade e cidadania de uma gente humilde, “ que vai em frente sem nem ter com quem contar” .
 

O regime militar acabou graças às mobilizações e lutas patrióticas das forças democráticas, mas o Conjunto Ceará, outrora símbolo do regime, foi esquecido pelas autoridades civis.


O Conjunto Ceará somente voltou ao centro das atenções do poder público em 1988. Naquele ano houve uma acirrada eleição para prefeito da capital. Ciro Gomes somente foi eleito graças a expressiva maioria alcançada na região. Eleito, realizou importantes melhorias no Conjunto. Em 1989, o conjunto habitacional foi emancipado por decreto do governador e tornou-se bairro autônomo, separado da Granja Portugal.
 

Hoje o bairro continua com graves problemas sociais, contudo já possui uma boa infra-estrutura urbana com bancos, escolas, delegacia. O Pólo de Lazer concentra algumas oportunidades de diversão com destaque para o movimento Hip Hop que agita e conscientiza a juventude do lugar e para a festa da padroeira Nossa Senhora da Conceição, padroeira do bairro que já possui até mansões. Mas não se iluda. A maioria das casas é simples, habitada por uma gente humilde que ainda coloca cadeiras nas calçadas ao fim da tarde para uma prosa com os vizinhos. Nas palavras poéticas de Chico Buarque, “tem certos dias em que eu penso em minha gente e sinto assim todo o meu peito se apertar (...)”. Salve o Conjunto Ceará!

 

 

Fonte: Evaldo Lima - professor e colaborador do Vermelho/Ce