História - O melhor do bairro de Inga, Niterói, RJ

História
A área pertencia à Sesmaria dos Índios, mas os portugueses e seus descendentes nela se estabeleceram. Este processo, apesar das semelhanças, distingue-se do restante do município por algumas questões que lhe são próprias.
O Ingá é cercado de morros, formando um vale que se abre em direção ao mar, onde está a praia das Flechas. Originariamente, os morros eram cobertos de vegetação, com nascentes e córregos. Perto do litoral existiam charcos. Esses morros isolavam o Ingá dos outros pontos de Niterói, à exceção de São Domingos.
A ocupação e a urbanização do Ingá se fez inicialmente como um prolongamento de São Domingos. A partir do largo, acompanhando o sopé dos morros, caminhos se fizeram, em direção às fontes(*1), chegando até a praia. Eram dois os caminhos que originaram as principais ruas do bairro: o do Ingá (Rua Tiradentes) e o da Fonte (Rua Presidente Pedreira). Esses caminhos, que atravessavam o Ingá no sentido Oeste-Leste, continuavam, em até Icaraí — o do Ingá, que subia o morro que o separa de Icaraí, onde hoje está a rua Fagundes Varela; e o outro — o da Fonte — que dobrava na altura da atual Rua Nilo Peçanha. Os dois caminhos se interligavam por uma passagem onde foi aberta a Rua Lara Vilela.
Ao longo desses dois caminhos, reconhecidos como ruas inclusive com seus nomes iniciais no Plano de Urbanização do século XIX, de 1840, o fracionamento das propriedades (desmembramentos por herdeiros, loteamentos, etc.) vai se dando ao longo do tempo, inclusive com o aparecimento de novas ruas.
Com a escolha de Niterói como capital da Província do Rio de Janeiro, o Governo provincial foi estabelecido no largo de São Domingos, no Palacete(*2), e logo transferido para a rua da Fonte/Presidente Pedreira. Abrigar os presidentes, de Província e de Estado, e depois os governadores (de Estado), foi fato marcante não só para a intensificação da ocupação e urbanização do bairro(*3), como também para o perfil de seus moradores.
A sede do governo foi chamada de Palácio do Ingá e funcionou, em tempos distintos, em dois locais no bairro. O primeiro numa propriedade do Barão de São Gonçalo, onde hoje funciona o Colégio Estadual Aurelino Leal e que foi sede do Governo até a transferência da capital para Petrópolis (1894). O segundo, quando a capital retornou a Niterói (início do século XX), numa propriedade que foi adquirida de um rico industrial português, permanecendo como sede do Governo estadual até a fusão dos Estados do Rio e Guanabara, quando Niterói deixou de ser capital.
No Ingá foram construídas belas e grandiosas residências desde o século XIX, residências que abrigavam figuras importantes(*4) da cidade e da Província/Estado, atraídas pelas condições do local: tranqüilidade, fontes, praia e, principalmente, por sediar o governo provincial e estadual.
A medida que esta ocupação se intensifica, novas ruas são traçadas, a praça e a igreja são construídas e o bairro assume um perfil independente de São Domingos. Em contraposição, os morros são cortados, desmatados e desaparecem as fontes de água.
Mais ruas são abertas interligando o Ingá diretamente com outros bairros. Para a construção destas foi preciso realizar grandes obras em períodos diferenciados, todas representando cortes nos morros que circundam o bairro:
São as Ruas Visconde de Morais, Fagundes Varela, São Sebastião e a Praia João Caetano (Praia das Flechas).
A mais significativa dessas obras foi a ligação pelo litoral entre o Ingá e Icaraí, pelas modificações drásticas que acarretou na paisagem natural: "Entre o Ingá e Icaraí não havia passagem porque se interpunha o morro que descambava no mar e onde escavaram as águas uma gruta de rara beleza, dando comunicação por um túnel natural, sobre um chão de seixos, daí o nome Itapuca" (*5) (Wers, p.184.1984). Tudo isso foi dinamitado em meados do século passado, restando hoje as pedras do Índio e de Itapuca — também muito bonitas, mas parte apenas do que lá já existiu. O material produzido pelo desmonte da Itapuca original foi utilizado para construção da muralha do cais e aterro respectivo, reduzindo sensivelmente a Praia das Flechas.
A construção da praça e da igreja marcaram ainda mais a identidade do bairro. Em meados do século XIX, num terreno doado por um morador, foi demarcada a praça, que teve o seu ajardinamento concluído por volta de 1876, como testemunham suas centenárias árvores. A praça passou por várias reformas até os dias atuais. A Igreja de Nossa Senhora das Dores do Ingá foi inaugurada precariamente em 1885, passando posteriormente por obras e ampliações.
Em terreno próximo ao Palácio do Ingá, em 1912, foi criada a primeira Escola de Ensino Superior de Niterói, a Faculdade de Direito Teixeira de Freitas (hoje pertencente a UFF).
Outros estabelecimentos educacionais também se instalaram no bairro:
• A seção feminina do Colégio Bittencourt Silva. Mais tarde no seu prédio (com a construção de um anexo) foi instalada a Faculdade de Economia.
• A Escola Normal, depois Escola Profissional Fluminense Aurelino Leal, no prédio que abrigou o primeiro Palácio do Ingá. Neste prédio, à noite, funcionaram até 1966 diversos cursos da antiga Faculdade de Filosofia, inclusive os de História, de Geografia e de Ciências Sociais.
• O Colégio Batista e o Colégio Marília Matoso.
• A Escola de Serviço Social, que funcionou, por um tempo, em um prédio da esquina da rua Pereira Nunes.
A fusão dos Estados do Rio de Janeiro e da Guanabara, com a transferência da capital para o Rio de Janeiro, a construção da Ponte Rio-Niterói e o boom imobiliário da década de 70 — são os principais geradores da atual feição do Ingá.
A existência de fontes de água é um fato marcante no Ingá. A afluência de pessoas era tão grande, com seus vasilhames, barris e carroças, que chegavam a obstruir a passagem dos que iam em direção à praia.
A propriedade da família imperial.
Previa-se a abertura de novas ruas no bairro, como por exemplo a que uniria as ruas do Ingá e da Fonte, em direção ao mar.
São grandes comerciantes, industriais, fazendeiros, médicos, advogados (Juízes, desembargadores), políticos e "altos funcionários". Marcante também era a presença de filhos de famílias ilustres do interior do Estado que aqui vinham para aperfeiçoar seus estudos.
Termo de origem indígena, que significa pedra furada, solapada.
O período de maior crescimento do bairro se deu de 1970/80, com uma taxa de crescimento anual de 3,54%, sendo o 18º bairro de maior crescimento no conjunto do município. No período posterior (1980/91) essa taxa declinou para 1,15%, passando a ocupar o 22º lugar. Apesar do declínio, o Ingá continuou com taxa de crescimento superior à média do município. É um bairro muito adensado, o segundo de Niterói: sua população de 15.496 habitantes (Censo de 1991) ocupa uma área de menos de 1 km² (0,69Km²). O bairro apresenta uma concentração da população nas faixas etárias de 20 a 39 anos, correspondendo a 33,33% do total, caracterizando uma população jovem e adulta. Quanto à distribuição por sexo, 44,94% correspondem à população masculina e 55,06% à feminina.
O bairro apresenta uma taxa média de alfabetização bastante elevada, 96,45%, sendo a quinta maior taxa entre os bairros. Este índice se mantém expressivo até nos grupos de idade mais avançada.
Do total dos chefes de domicílio, 70,94% são homens, e 29,06% são mulheres. O número de moradores na categoria individual, ou seja, os que vivem sozinhos — é bastante expressivo, devido principalmente a estrutura de serviços existente no bairro.
Nota: Não estão incluídos os chefes de domicílios improvisados.
Dos 4.719 chefes de domicílio, 18,82% ganham até 3 salários mínimos. A maior concentração de rendimento médio mensal se encontra nas classes de mais de 3 a 15 salários mínimos, representando 52,38%. Também bastante representativo é o percentual dos que ganham acima de 15 salários mínimos: 27,42%, caracterizando o bairro como de população com rendimentos médios.
O Ingá apresenta 4.953 domicílios, sendo que 4.719 são domicílios particulares permanentes. Desse total, 72,81% são próprios, 21,23% são alugados e 5,94% constituem outra forma de ocupação (em geral cedidos por particulares ou empresas). Predominam as habitações do tipo apartamento (84,28%). Observa-se também que 3,86% das habitações são do tipo aglomerado subnormal, ou seja, favelas.
O bairro é bem servido de infra-estrutura básica, tanto no abastecimento de água, quanto na instalação sanitária e no lixo coletado.
Um baixo percentual das habitações, possivelmente localizadas nas favelas não têm canalização interna (1,65%) para o abastecimento de água. No Ingá, 60 domicílios ainda usam instalações sanitárias precárias: cinco utilizam a fossa rudimentar, cinco recorrem a valas, três não souberam responder e 47 domicílios recenseados não têm nenhum tipo de escoadouro.
Caracterísiticas atuais e tendências
Até a década de 70, o poder político do antigo Estado do Rio de Janeiro tinha como principal endereço a rua Presidente Pedreira, no Ingá. Apesar da decadência econômica do antigo Estado do Rio afetar a sua capital, a proximidade com o poder manteve no Ingá um ar aristocrático, sobrevivente da época imperial. Mas este perfil não resistiu, contudo, à especulação imobiliária. Cada uma de suas antigas propriedades foi sendo derrubada para dar lugar a edifícios de apartamentos, restando nos dias de hoje apenas umas poucas construções remanescentes, testemunhas do passado.
Com o aumento de sua população — e também a de bairros como Icaraí, São Francisco e da Região Oceânica outras transformações viriam ocorrer no Ingá.
Cresceu significativamente o número de estabelecimentos comerciais. Hoje o Ingá abriga supermercados, sorveterias, armarinhos, vídeo-locadoras, farmácias, açougues, bares e hotéis. No campo da educação pública, além das escolas da UFF já citadas, o poder público implantou no Morro do Ingá uma unidade do Programa "Criança na Creche".
O bairro é bem servido de transporte coletivo. Por suas ruas, por onde já circularam bondes(*6) e trolley-bus, hoje passam ônibus de várias linhas, inclusive intermunicipais. Suas ruas, principalmente a João Caetano, a Paulo Alves, a São Sebastião e a Fagundes Varela, estas duas últimas limítrofes com outros bairros, têm um trânsito intenso, apresentando engarrafamentos constantes nas horas de maior movimento.
Nos limites com a Boa Viagem encontramos o Morro do Ingá, conhecido também como Morro do Palácio. Nele existe uma área de favelização, onde os conflitos afloram, signatários da violência urbana.
No bairro há também prédios tombados ou em processo de tombamento. Significativos são: o do Museu Antônio Parreiras, propriedade onde viveu o mais importante pintor de Niterói; e o Palácio do Ingá, que abriga o Museu de Artes e Tradições Populares, o Museu do Estado do Rio e uma Escola de Artes(*7), além do prédio da Secretaria Municipal de Cultura e Fundação Niteroiense de Artes (Funiarte).
No litoral, em frente à praia das Flechas, praticamente desapareceu a convivência entre o passado e o presente encontrado em outros pontos. Sobrevive apenas o Jardim do Ingá e o Edifício Itapuca, o primeiro prédio de apartamentos com elevador de Niterói, construção da década de 30. Nada restou dos antigos casarões que abrigavam residências e até mesmo o Icarahy Palace Hotel e a Rádio Difusora Fluminense. Uma parede de concreto de prédios de alto padrão, construídos lado a lado, cortada pelas quatro ruas que atingem a praia, forma a nova face da praia das Flechas(*8).
A Praia das Flechas também teve a sua paisagem natural bastante alterada, tanto pelo aterro e construção do cais (rua e calçada) na ligação com Icaraí, quanto pelo corte no morro para a abertura da rua em direção à Boa Viagem. A praia diminuiu, tendo algumas grutas desaparecido. Apesar de toda essa transformação, a praia, com sua bela vista, continua sendo frequentada e os praticantes de caminhadas e corridas são presenças permanentes.
Inicialmente os bondes de tração animal e depois de tração elétrica (1871).
Em um prédio nos fundos do Palácio já funcionou uma Fonoteca.
Há duas hipóteses para a denominação praia das "Flechas": a primeira relacionada às flechas utilizadas pelos índios e a outra, mais provável, supõe que o nome derivou da planta, abundante nos brejos locais, da qual se originam a flecha e a paina da flecha.
Fonte
• Setor de Urbanismo de Niterói.